A seguradora Ageas pretende lançar uma rede própria de centros de saúde, unidades de diagnóstico e hospitais. O projeto poderá avançar através da criação de infraestruturas de raiz ou por meio da aquisição de empresas já existentes no mercado. O anúncio foi feito nesta quarta-feira por Luís Menezes, presidente da seguradora, que é atualmente a segunda maior a operar em Portugal, com uma quota de 15,5% do mercado. O responsável considera a aposta na saúde uma prioridade para o grupo, num contexto em que até os hospitais privados enfrentam dificuldades para responder à procura crescente.
Luís Menezes sublinha que a intenção de criar uma rede própria de unidades de saúde não pretende excluir ou competir com os prestadores atuais, como clínicas e hospitais parceiros. No entanto, reconhece que estes já se encontram sobrecarregados, afirmando que muitos hospitais privados apresentam hoje um volume de doentes semelhante ao dos hospitais públicos.
Apesar do aumento da procura, Menezes destaca que os serviços prestados continuam a ser diferenciados em relação ao Serviço Nacional de Saúde, que tem perdido médicos para o setor privado devido a razões económicas. O presidente da Ageas acredita que existe espaço em Portugal para a criação de uma rede integrada em que a própria seguradora possa gerir diretamente as unidades de saúde, oferecendo cuidados médicos de forma mais eficiente.
Segundo o gestor, os clientes beneficiariam de preços mais baixos se houvesse integração. Em vários países europeus, como Espanha, esse modelo já está implementado com sucesso. Atualmente, os clientes da Médis têm acesso a consultas online gratuitas e são encaminhados para unidades de saúde externas. Com a criação de infraestruturas próprias, esse encaminhamento passaria a ser feito para unidades geridas pela própria seguradora.
Questionado sobre o arranque deste plano, Luís Menezes garante que já está em curso e que será acelerado nos próximos anos. A Ageas, que conta com cerca de um milhão de clientes na Médis, já atua nas áreas da medicina dentária e fisioterapia. Está também prestes a concluir uma aquisição na área da fisioterapia que, segundo o responsável, permitirá tornar-se o maior prestador nacional nesse segmento. Os próximos passos passam pelo investimento em cuidados primários e, mais tarde, hospitalares.
No entanto, Menezes admite que é difícil prever prazos exatos para a execução dos projetos, já que o crescimento orgânico requer tempo e planeamento, enquanto as aquisições dependem da disponibilidade de ativos no mercado. Afirma que a empresa está atenta a várias oportunidades que surgiram recentemente.
Em relação a parcerias público-privadas, o presidente mostra alguma cautela, mas não exclui essa possibilidade. A decisão dependerá da viabilidade do modelo e dos interesses do grupo.
No mercado da saúde privada, o grupo Luz Saúde que pertence à seguradora Fidelidade está à procura de investidores minoritários, depois de ter cancelado a intenção de entrar na bolsa. Confrontado com um eventual interesse nesses ativos, Menezes voltou a afirmar que a Ageas está a analisar todas as oportunidades disponíveis.
A Ageas terminou o ano de 2024 com um resultado líquido operacional de 103 milhões de euros, abaixo dos 120 milhões do ano anterior, apesar do crescimento de 33% no volume de negócios. Os resultados foram penalizados pelo fraco desempenho da área do seguro automóvel e por investimentos que não atingiram os objetivos esperados. Foram também feitas imparidades com o objetivo de reforçar a solidez financeira da empresa e criar uma base mais estável para o novo ciclo estratégico de três anos, iniciado no final de 2024.
Atualmente, o rácio de solvabilidade da seguradora é de 234%, reforçando a sua capacidade para executar os novos planos de expansão.
Fonte: observador.pt